Capítulo III - Tem, mas acabou! - parte I

Sério! Senti-me no velho programa do Jô Soares, quando o personagem balconista gritava para alguém “lá dentro”:
- Valdjiiir! A gentche temossh tal coisa?!
Resposta incompreensível.
Vira-se o balconista para o freguês:
- Contribuintchi, tem, mas acabou.
Igualzinho me disse a moça, depois de eu esperar 10, 15 minutos (o meu tempo é bem mais barato que o da televisão, então pode).

Forante as três ou quatro vezes em que saí sem ser atendido, depois de estar sentado à mesa por também bons 15 minutos.
É como ser invisível.
Não é uma boa sensação ser assim ignorado.
Aprendi que, num restaurante japonês, se bate palmas duas vezes, bem fortes, para chamar a atenção de quem atende – ou deveria atender.
É uma medida extrema que, no Japão, enche de vergonha quem trabalha no restaurante.
Mais do que chamar a atenção, é uma reprimenda grave para um fato gravíssimo: ignorar um cliente.
Usei o aprendizado em Curitiba, e deu muito certo: de repente, por alguns instantes, o restaurante - japonês - ficou absolutamente silencioso e todos nele, todos, olharam para mim.
Dois garçons ruborizados, depois da bronca da patroa, vieram me atender e consegui o café e a conta e um pedido de desculpas, “a casa está muito cheia etc e tal”.

Mas anotei com letras de ouro no meu querido diário o dia em que, na quarta vez em que ia à padaria, a senhora do caixa disse-me “Bom dia!”.
E quase sorriu!
Juro!
Pegou-me de surpresa, quase fico sem resposta diante do inusitado bom dia!

No mais, vá precisar em Curitiba, de um eletricista ou encanador ou pedreiro, carpinteiro, vidraceiro, mecânico, reparador de computador, ou qualquer outro profissional, autônomo ou não, que seja, supostamente, um prestador de serviços!
Certamente:
- você será mal atendido,
- nenhum prazo será cumprido,
- o serviço ou não será feito ou será mal feito,
- você terá que se adaptar às condições do prestador,
- você ouvirá, no mínimo uma vez, “não é problema meu”,
- você ouvirá, no mínimo uma vez, “o que é que eu posso fazer?” ou “não posso fazer nada!”,
Você ficará puto da vida, o que não adiantará nada:
os caras não apenas não têm receio de perder o freguês, como parecem fazer questão de que não se volte a incomodá-los!

Por exemplo:
Todos os meses se compra, na empresa, um grande bolo e salgadinhos, para comemorar os aniversariantes do mês.
Na última sexta-feira de cada mês, faz-se uma festa de escritório.
Novembro, idem.
Só que, em dezembro há férias coletivas, então, na festa de confraternização comemora-se tudo junto: fim de ano, veteranos, aniversariantes de dezembro.
Então, este mês, queremos um bolo de três andares, incrementado e coisa e tal.
Diz a confeitaria:
- Ah, mas é difícil...
- Como, difícil?!?!
- É que a gente sempre faz um bolo simples, sem camadas...
- Sim, entendo. Então, este mês, ao invés de um bolo, vocês fazem três bolos e põe um em cima do outro!
- Mas é difícil...
- Qual é a dificuldade?!
- Acho que nós não temos tabuleiro ...
- Mas é o mesmo tabuleiro de todo mês!
- Pra quando vocês querem?
- Dia tal.
- Sexta-feira?! Ih, vai ser difícil... Acho que dá para fazer, mas vocês têm que devolver o tabuleiro no sábado, sem falta.
- Ah, é? Então é o seguinte: - Não, obrigado, não queremos dar trabalho e atrapalhar vocês. Você conhece alguma confeitaria para nos indicar?
Espanto!
- Não? Pode deixar, nós encontramos alguém que faça o bolo para nós, não precisa se incomodar!
A filial local da padaria paulistana faz.
Não sem antes consultar a matriz, claro!

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4 comentários:

  1. Pelamordedeus!! Fico imaginando se eu poderia aplicar isso em SP. Seria interessante poder fazer isso, mas minha ética não me permite...

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  2. É amigo?? pois é...vem para S.Paulo, que tudo por aqui é muito rápido....

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  3. ... pqp!!! Esta cidade é mesmo uma antítese a tudo que diz respeito à gentileza, à simpatia, à sociabilidade. Deviam estar no livro dos recordes da falta de amizade, de sociabiliade e interesse pelo ser humano. Além de tudo, uma arrogânica que beira o rídiculo. Provincianos pobres e terceiro-mundistas. Xoooo burgueses decadentes.

    Fui!!

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  4. Não vá, "Anônimo", você vai se impressionar pelo que vem mais à frente!
    Arrogância é pouco!

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