Quiescal

A festa e o mote

Praticamente todas as cidades da Região já tinham sua festa disso ou daquilo, e já haviam ingressado no calendário turístico do Estado e garantido um bom dinheiro extra, todos os anos, por conta das tais festas.
Os membros da Associação Comercial pressionavam: uma festa daquelas garantiria, desde que bem feita, pelo menos uma semana de hotéis (eram dois) e pousadas (eram duas também) cheias, e sendo boa mesmo, sobrava gente para cidades vizinhas, assim como, de vez em quando, sobravam para eles hóspedes que só dormiam na cidade, porque estavam mesmo interessados na Festa do Peão de Boiadeiro de São Crustáceo da Serra ou na Festa do Morango de São Benedito das Calças Curtas d’Oeste.
E, da mesma forma, os donos dos (dois) restaurantes da localidade, e gente que tinha quarto sobrando em casa, porque os filhos foram estudar em São Carlos, por exemplo, e pensavam num dinheirinho extra, hospedando gente que viria para a festa, qualquer que fosse, desde que fosse boa.
De tanto ser aporrinhado, inclusive pelo pessoal do Lobo Guará’s Service Club, do qual era membro e, sobretudo, por sua mulher, acabou convencido e, da resistência inicial, passou a ser adepto entusiasmado da coisa.
Não tinha Secretaria de Turismo.
Também, o que menos havia na cidade era turista.
Cidade sem relevância histórica ou artística.
A padroeira da cidade... padroeira?
Não se convencia com essa palavra: padroeira, de padre, de pai.
Não seria melhor madroeira?
Madrinha?
Madrinha é vaca! Dizia a mulher, fazendo o “pelo sinal”!
Enfim, Nossa Senhora da Conceição, festa aos 8 de dezembro.
Nada contra a Santa, em absoluto, minha Nossa! Minha Nossa?
Minha ou Nossa?
Só em Minas Gerais, 111 municípios têm a mesma ...padroeira, com festa e feriado no mesmo dia, claro.
Portanto, nenhum destaque na vertente religiosa da questão.
Atrações naturais poucas, quase nada.
Uma mísera cascatinha num mísero regato, dentro de uma fazenda de um inimigo político, ainda por cima.
Nem pensar.
Não sendo estância climática nem mineral, nem tendo reservas de Mata Atlântica nem relevo interessante, sequer um morro suficientemente alto para alguns malucos escalarem ou se atirarem lá de cima, pendurados num papagaio gigante e sem linha, também não seria por aí.
Verão quente, mas, sem água: nem uma represa ou um rio importante, nada feito.
Inverno chuvoso, poderia esquecer festival de inverno, até porque, sem teatro e sem cinema, só um ginasiozinho municipal muito mixuruca, velho de seis gestões, precisando de muito investimento para atividades artísticas,... melhor esquecer.
E com isso, descartou também, pela ordem:
- a EscalFest – Festa da Cerveja de Escaldado.
Escaldado, a propósito, é a prazerosa e progressista cidade de que se trata, e cuja fábrica de cerveja mais próxima está a 230km de distância, e da qual é o prefeito.
- o FACESCAL – Festival de Artes Cênicas de Escaldado (representar onde? Como?), e
- o CINESCAL – Mostra de Cinema Internacional de Escaldado, que premiaria com o Escaldadinho, nas modalidades Ouro, Prata e Bronze, mas que teria que exibir os filmes em São Crustáceo, onde havia ainda um velho cineminha às moscas.
Festa de Peão? Há várias, todo final de semana tem três ou quatro.
Falta data, é muito caro e difícil bater as mais concorridas.
Diante disso tudo passou a pensar na produção agropecuária local, o que, para muita gente, seria a primeira opção e não a última.
Mas tinha suas (boas) razões: a produção de Escaldado não é em nada diferente das outras cidades da região que, por sua vez, já haviam se adiantado existindo, perto ou longe:
Festa do Morango (várias), Festa da Moranga, Festa da Batata, do Tomate, da Uva (várias), do Vinho, da Garapa, da Cerveja, do Chopp, da Alcachofra, da Goiaba, da Cerejeira, da Maçã, do Mamão, da Melancia, do Pinhão, do Amendoim, do Biscoito, da Broa de Fubá, do Pão-de-Queijo, do Queijo, do Leite, do Café, do Pão-de-Ló, do Marolo, da Rapadura, do Caju, do Cacau, do Chocolate, da Laranja, do Limão, da Mexerica, do Milho (várias), da Polenta, da Mandioca, da Canjiquinha, da Pizza, do Porco no Rolete, do Boi no Rolete, da Lingüiça, da Salsicha, do Frango, da Galinha, do Ovo, da Gemada, do Caranguejo, do Camarão, da Pescadinha, da Sardinha, da Lagosta, do Mar, da Tilápia, da Primavera (várias), das Flores (várias), das Rosas, das Hortênsias, dos Cravos, do Cravo e Canela, da Cachaça, Julina, Junina, Havaiana, do Divino, da Lavadeira, do Cavalo, Vaquejada, Folclórica, da Viola, do Violeiro, da Viola e do Cordel, do Cordel e da Viola, além das várias Festas Agropecuárias, Festas Agropecuárias e Industriais e Festas Agropecuárias, Industriais e Comerciais, que são o artifício das cidades como a sua, com nada de destaque.
Só que Escaldado tem um problema que impede até a utilização do genérico, que é não ter nenhuma indústria de nada, nem de lingüiça, nem de enxada, e um comerciozinho pobre.
Pois se nem funerária tem!
Caixão é feito fora, sabe Deus onde, e adquirido em São Benedito.
Quer dizer, nem uma festa de Finados, como aquela do México, que vira na TV, daria para fazer.
Havia que ser algo específico e não utilizado, ainda que não exclusivo.
Foi assim que chegou à brilhante concepção da “QUIESCAL” – Festa do Quiabo de Escaldado!
Escaldado, lembrou-se, exporta quiabo para a CEAGESP e para o Mercado Municipal de São Paulo!
Os melhores restaurantes de São Paulo servem, quando servem quiabo, o produto de Escaldado (não dá para garantir, já que a rastreabilidade do quiabo é baixa, mas a chance de que seja é grande)!
Seu sogro, lembrou-se e inspirou-se, é um dos importantes produtores de quiabo da região e o seu desafeto político não produz quiabo, porque não gosma, quer dizer, porque não gosta (riu-se).
De pronto pensou em frango com quiabo e em pau-de-sebo, devidamente renomeado como pau-de-gosma ou pau-de-baba, com bons prêmios aos corajosos trepadores.
E caça ao leitão enquiabado!
E ... e o que mais? Embatucou.
Meio sem saber o que fazer, pensou em conversar com a mulher ou em reunir o secretariado, ou ambos, anunciar a boa idéia e pedir sugestões.
Afinal, havia se dedicado bastante até obter uma idéia tão criativa e original, estava na hora de ter colaboração ao invés de apenas cobrança.
Por via das dúvidas, pediu à senhorita Secretária Municipal que levantasse, na Internec, no tal do Gúgul, umas receitas boas de comida de quiabo, porque ele mesmo, além de não gostar, só conhecia duas formas: refogado, com arroz e feijão, ou a galinha com quiabo.
Era preciso saber se haveria mais o que fazer com aquilo, numa quantidade que justificasse a “Quiescal”.
A menina, que ficava na Prefeitura mexendo no computador, sem entender e sem querer entender o motivo de tão estapafúrdia demanda, fez a pesquisa e apresentou o resultado das quinze primeiras páginas:
-Tá bom assim, Prefeito?!
O homem ficou espantado com tanta alternativa!
Arroz com frango e Quiabo,
Caril seco de Quiabo,
Carne de panela com Quiabo e batata doce,
Caviar de quiabo com legumes tostados – Alex Atala, em negrito,
Como tirar a baba do Quiabo,
Cozido de cordeiro com Quiabo,
Emulsão de nabo com lulas e quiabo frito,
Ensopado de quiabo (Khoresh-e Bamieh ),
Espetinho de quiabo com bacon,
Farofa de Quiabo,
Frango assado com Quiabo,
Frango com Quiabo,
Frango com Quiabo da Letícia Spiller, em negrito também,
Gel para cabelo seco,
Guisado de carne moída com batatas e Quiabo,
Lagosta com molho de dendê e caviar de quiabo,
Milho com Quiabo,
Pastel de carne e Quiabo,
Picadinho de carne com Quiabo,
Quiabo à crioula,
Quiabo à milanesa,
Quiabo a Escabeche,
Quiabo à grega,
Quiabo atomatado,
Quiabo com bacalhau,
Quiabo com bacon,
Quiabo com batatas, à moda indiana,
Quiabo com camarão,
Quiabo com camarão seco (caruru),
Quiabo com carne seca,
Quiabo com costela de porco,
Quiabo com galinha,
Quiabo com lingüiça,
Quiabo com milho e tomate,
Quiabo com polenta,
Quiabo com tomate e gengibre,
Quiabo em conserva para entradas e petiscos,
Quiabo Frito,
Quiabo Indiano,
Quiabo no azeite,
Quiabo no bafo,
Quiabo refogado com alho e shoyu,
Refogado de Quiabo,
Robata de quiabo,
Salada de Quiabo,
Sopa de frango com quiabo e angu de milho,
Torta de carne e quiabo.
Leu e releu.
Coisas que ele não sabia o que fossem, como caril, ou como robata e shoyu, comida japonesa, isso sabia; coisas que talvez nem fossem gostosas, como frango com quiabo, mas a dona da receita, pelo que se lembrava, era!
E, quem sabe, convidada para a festa, a sen-sa-cio-nal QuiEscal, Letícia compareceria e seria atração... de quanto seria o cachê?
Pedir para a secretária municipal investigar, anotou mentalmente.
Alex Atala, famoso dono de restaurante cinco estrelas: Caviar de Quiabo!
Caviar de Quiabo?
Mas caviar não são ovas de peixe?
Como diabos o homem conseguia tirar ovas de quiabo?!
E coisas que até soavam bem, deveriam ser gostosas, por que não?
Devaneou: barraquinha de pastel de carne e quiabo.
E também de queijo e de palmito, para quem não come carne.
A R$ 1,50 o pastel, que custasse 50 centavos cada, mil pastéis, mil reais; fora a garapa, a cerveja... será que quiabo dá suco?
Outra barraca de espetinho de quiabo com bacon. Bacon é toucinho.
E sem toucinho, espetinho laite de quiabo, ô diabo! Era capaz de dar negócio!
Além do que, havia na lista coisas que não eram de comer, mas que podiam render um, como é que é?
Uorquichópi!
Uorquichópi de Gosmética: Gel de Quiabo para Cabelos Secos! Beleza!
Uorquichópi de Culinária: Como tirar a baba do Quiabo!
E sorteio de utensílios especiais para o preparo de Quiabo, para os participantes do uorquichópi!
Um livro de receitas de Quiabo, exclusivo da “I QuiEscal – 1ª Festa Nacional... não!
"1ª Festa Internacional do Quiabo de Escaldado”.
Claro: Internacional, pois se até comida japonesa e indiana e grega e árabe havia na lista!
Então!?
E, claro, não seria tudo na primeira.
Deixaria algumas coisas e receitas guardadas para a segunda e a terceira festas!
E comida americana também: a Secretaria Municipal pegara no Gúgul, em ingrêis, que Quiabo é Okra e serve para fazer Gumbo.
Havia uma folha anexa:
Gumbo
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Gumbo (pronuncia-se gambo) é o prato mais marcante da culinária Cajun da Louisiana (sul dos Estados Unidos). É um guisado ou uma sopa grossa, geralmente com vários tipos de carne ou mariscos, que se come com arroz branco, podendo constituir uma refeição completa.
Gumbo é o nome que se dá na
África Ocidental (região do actual Benin) ao quiabo que, não sendo essencial, é comum neste prato e é provavelmente o que lhe deu o nome. Este cozinhado, que não precisa de ingredientes de alta qualidade é característico das populações criolas, originadas das sociedades esclavagistas.
A maneira tradicional de engrossar o gumbo é com o roux (para quem não sabe, significa
vermelho ou ruço) que é farinha de trigo “queimada” em óleo. Quando a mistura ao lume começa a mudar de cor passa primeiro a castanho claro e depois, rapidamente, a castanho-escuro. Um roux claro (cor de café-com-leite) engrossa mais o guisado do que um escuro (cor de chocolate).
Quando o roux está pronto, podem deitar-se-lhe em cima os vegetais finamente cortados (
cebola, alho, aipo, cenoura, ervilhas ou outros) e finalmente as carnes e mariscos. Uma carne que é típica da culinária cajun é a andouille, muito semelhante ao chouriço português; é também frequente associar aves e camarão ou lagostim-de-água-doce.
Para além do
sal, cebola e alho, fazem igualmente parte do tempero de muitas preparações cajun, como o gumbo, o tomilho e a pimenta-de-Cayenne. Outro tempero associado ao gumbo é o pó de sassafrás.
Não faz mal que o Quiabo não seja essencial no Gambo, em Escaldado seria!
Poderiam convidar algum dono de restaurante de Americana que fizesse a tal comida.
Pensou: comida americana legítima, com o legítimo quiabo especial de Escaldado? Então?
Onde mais alguém encontraria isso?
Em lugar nenhum do mundo!
Só na QuiEscal!
Reuniu a tropa!
O Secretariado quase todo (menos o de Saúde, Médico que, nesse dia, dava plantão no Postinho de São Benedito das Calças Curtas, próspero município vizinho; e o da Educação e Cultura, que tinha aula no supletivo em São Crustáceo, mas não fazia mal: seu cunhado, Secretário da Fazenda, estava, e era ele quem mais interessava no momento, porque, apesar de ser o que era, era bom de cálculo de dinheiro e irmão da sua mulher e podia ajudar a vender o peixe, ou o quiabo, no caso, para a digníssima, pensou).
Apresentou o projeto: (a Secretária Municipal fizera no pauêrpóin, com direito a uns retratinhos de quiabo, conseguidos no Gúgul também)
- Escaldado teria sua festa! Única! Exclusiva! Inédita! Uma baba! A Espetacular (limpou a garganta, impostou a voz) QUIESCAL – FESTA INTERNACIONAL DO QUIABO DE ESCALDADO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Ficaram todos se olhando.
O cunhado balançou a cabeça e disse em voz baixa: - Pirou de vez!
E ele: - Mas vocês não estão me enchendo o saco, desde antes do começo da gestão, que eu tinha que arrumar uma festa prá vocês se... quer dizer, pro município arrumar um dinheiro extra, um reforço no orçamento municipal da cidade? Então! Arrumei sô! A ES-PE-TA-CU-LAR QUIESCAL! FESTA INTERNACIONAL DO QUIABO DE ESCALDADO! – Repetiu, em voz alta de locutor de serviço de alto-falantes, os braços abertos.
Desde a última campanha para prefeito, deixara de dizer Iscardado, de tanto mulher e filha lhe repetirem e fazerem repetir ES – CAL – DA –DO.
Não pegara gosto, mas pegara o vício.
O Secretariado ficou mais espantado ainda!
O homem tava falando sério!
E o ilustríssimo prefeito devaneando de novo, em voz alta, vendo um monte de mulher bonita desfilando diante de dele, de biquini:
- A Segunda Princesa do Quiabo! A Primeira Princesa do Quiabo! A Rainha do Quiabo!
- E o concurso infanto-juvenil da Princesinha do Quiabo, Rainha do Quiabo de Amanhã! Pensa bem!
E retomando o discurso:
- E, craro, não podemo esquecer desse herói anônimo, o produtor de quiabo! Prêmio para o maior quiabo da safra! Prêmio para o Produtor Símbolo do Quiabo, meu excelentíssimo sogro!
E, virando-se para o cunhado secretário:
- Teu pai, sô!
- E, pensa bem, podemo apresentá um projeto criando a Secretaria Extraordinária da Indústria e Comércio de Escaldado, que terá a nobre missão de criá o Pólo Industrial do Quiabo! Escaldado deixará de exportá o artigo “in natura”! Vamo agregá valor ao nosso quiabo, à nossa riqueza naturar! Vamo binificiá o quiabo em Escaldado e vamo binificiá o Trabaiadô de Escaldado e vamo binificiá minha famía, coincidentemente, dona daquele terrenão largado lá perto do trevo, que vai sê ótimo para imprantá o Pólo. E vamo dá os terreno pras indústria que quisé ví, com isenção de IPTU por déis... não, por vinti ano!
- Pensa bem! Vai sê bão! Escoiê e crassificá os quiabo; selecioná; lavá; secá; embalá em várias embalagi diferente; armazená em armazém frigorífico; transportá... Vai sê uma beleza, o Cicro Industriar do Quiabo! Quiabo em conserva, quiabo congelado, uma maravía!
- Vamo tê escola SENAI e SENAC! Vamo tê firma de transporti... de logística... preciso me lembra que transporti agora chama logística...
Mas foi chamado de volta à realidade pelo cunhado secretário, que lhe puxava a manga e dizia:
- Ói qu’eu quero uns terreno nessa maravía que cê tá rezano aí...
- Eu num tô rezano nada, sô! Tô pensano na maravía que vai sê isso daqui uns ano...
Reparou que a Secretaria lhe pusera outro papel na mão.
Leu rapidamente:
Quiabo
Informações sobre o Quiabo, características, vitaminas, benefícios e propriedades
Quiabo: rico em vitaminas A e C
CLASSIFICAÇÃO CIENTÍFICA
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Malvales
Família: Malvaceae
Gênero: Abelmoschus
Espécie: A. esculentus
INFORMAÇÕES
· O quiabo é um vegetal de cor verde e formato alongado e fino.
· Cada 100 gramas de quiabo possui, aproximadamente, 35 calorias. Portanto, é um alimento de baixo nível calórico.
· Possui uma boa quantidade de vitaminas A e C.
· Com relação aos sais minerais, possui: fósforo, ferro e cálcio.
· O período de safra é de dezembro a março. Porém, pode ser encontrado em todos os meses do ano.
· É consumido na forma de refogados, sopas e ensopados (com carne).
· Ao cozinhar, o quiabo solta um líquido viscoso, popularmente conhecido como "baba" do quiabo.
· É um vegetal de origem africana.
http://www.suapesquisa.com/alimentos/quiabo.htm
Precisava do Secretário de Saúde.
“Vai dar para tirar mais coisas daí”, pensou, pensando nas vitaminas e nos sais: “Quem diria que o diabo tem fósfo, sô?!”
Sabia, fósforo é fortificante.
E ferro, e cálcio também!
Quando criança tivera que tomar vidros e vidros de líquidos viscosos ou asquerosos, com esses três: Ferro, Cálcio e Fósforo!
Então: “Pensa bem – pensou – mais quiabo na merenda escolar, menos remédio pra criançada tomar!” .
E, enquanto lia, a discussão corria solta entre o Secretariado.
Voltou à realidade quando, de repente, cessou o burburinho; o Sr. Secretário Municipal dos Transportes batera na Mesa, e, com um tom de voz alterada, berrou:
- ‘Ceis tão tudo lôco! Quar festa nem meia festa, ainda por cima do Quiabo! E internacionar! Ora, Sêo Prefeito, faça-me o favor!
- Favor de quê, pode-se saber, prezado secretário Capivara? Perguntou o Prefeito, irônico, usando o detestado apelido do seu secretário, dono da bicicletaria e motocaria local e, por isso mesmo, o mais capacitado em transporte urbano e, por que não dizer, rural?
- Mais Cráudio do céu! ‘Cê tá lôco? ‘Cê qué mudá seu apelido de Cráudio Espiga prá Cráudio Quiabo, é isso ómi?!
Alguns dos colegas riram discretamente, por saberem que o prefeito, embora tenha usado o apelido na campanha, também não gostava de ser lembrado pelo tufo de cabelos meio avermelhados que lhe ornavam o cocoruto.
- Num tem nada a vê co’apelido de ninguém! É voceis, ôcê incrusive, sêo Capivara, que vive me enchendo o saco, e agora que eu consegui tê uma baita duma idéia boa dessa, vem me dizê que tô lôco? Lôco tão ocêis, si num quizé fazê essa festa! Pensa bem!
E, discursivo, elogiou o alto teor de ferro, de fósforo e de cálcio que essa grande e desprezada riqueza natural da cidade e que podia fazer a geração atual e as futuras de escaldadenses mais fortes, com mais saúde.
Isso sem mencionar que é um alimento de baixa caloria, ou seja, já é “laiti” por natureza!
Então! Pensa bem!
Quanta coisa boa podiam fazer, desde que tivessem coragem e cabeça, não saíssem da reunião para a rua dizendo que o Cláudio Espiga estava louco, mas que o excelentíssimo titular do poder executivo é um gênio e bolou o que colocará Escaldado num novo patamar no concerto dos municípios da região e, por que não dizer, do Estado!
O cunhado sussurrou: Ói o ómi di novo no palanque!
E, em voz alta: - Apoiado! Tem razão meu digníssimo bródinló! Desde a campanha que nóis ‘tamo’ buscano isso. Agora que ele achô, é isso mêmo! Não podemos nos furtá a por em prática essa maraviósa idéia só porque para alguns ela pode num sê maraviósa. E daí? (daí que paro de escrever em dialeto, porque cansa).
-Vamos desistir sem começar? Nunca fui homem de fugir da briga, vamos brigar! Por Escaldado, quem está conosco?!
Todos, inclusive Capivara, levantaram as mãos , animados pelo discurso e sabedores que, para tanto entusiasmo, havia de haver algo não dito, mas que mereceria atenção.
Discutiram e nomearam uma Comissão que, por enquanto, seria nomeada por Ato Secreto, não por falta de transparência, absolutamente, mas para preservar o segredo de estado.
No caso, de município.
Mais tarde, em “off”, o Secretário Capivara perguntou ao Secretário Cunhado o porquê daquele apoio todo, que aí tem.
- Pois tem mesmo! Tem que, se esse negócio der certo, vai ser bom para todos, inclusive nós. Como diz o Espiga, pensa bem, um bando de gente, por menos que seja, vai ser bom. Hoje em dia, quem que vem para cá? Só os vendedores de sempre. Aí no caso não, e a gente pede para a mídia dar uma cobertura, pelo menos nos jornais regionais.
- Por outro lado – continuou, com um arzinho esperto -, se não der certo, a cidade vai aparecer na mídia pelo rídiculo que o prefeito ridículo fez ela passar. Ele fica mal mas nós não. Seremos os leais secretários que tentamos demovê-lo dessa idéia amalucada etc. De qualquer jeito, vamos aparecer, e bastante, é ou não é?
O outro limitou-se a um riso cúmplice e, batendo nas costas do colega, a dizer:
- Pensa bem! Pensa bem!
A Comissão Organizadora da Primeira Festa Internacional do Quiabo de Escaldado, a 1ª QUIESCAL (ou Escaldado’s Okra International Fest – não podiam esquecer da internacionalidade da coisa) reuniu-se algumas vezes para trabalhar sobre as idéias do senhor prefeito e já definiram que vai ser em março: já foi ano-novo e carnaval, o iptu e o ipva, o material escolar e outras despesas de começo de ano, o dinheiro começa a ficar disponível; fim de verão, nenhum feriado importante, conforme verificara a senhorita Secretária Municipal no “tar do Gúgul” e em (
http://www.brasilazul.com.br/feriados-marco-datas-comemorativas.asp)
Feriados e datas comemorativas de março
01 – Dia do Turismo.03 – Dia Nacional do Meteorologista.05 – Dia da Filatelia.05 – Dia do Filatelista.07 – Dia do Fuzileiro Naval.08 – Dia Internacional da Mulher.10 – Dia do Sogro.11 – Dia do Motociclista.12 – Dia do Bibliotecário.12 – Dia do Industrial do Café.14 – Dia da Poesia.14 – Dia do Vendedor de Livros.15 – Dia Mundial do Desenhista.15 – Dia Mundial do Consumidor.19 – Dia da Escola. 19 – Dia do Artesão. 19 – Dia do Carpinteiro. 19 – Dia do Marceneiro. 21 – Dia do Início do Outono. 21 – Dia Internacional da Eliminação da Discriminação Racial. 22 – Dia Mundial da Água.23 – Dia Mundial da Meteorologia.24 – Dia Mundial de Combate à Tuberculose. 26 – Dia do Cacau.27 – Dia do Artista Circense. 28 – Dia do Diagramador. 28 – Dia do Revisor. 31 – Dia da Integração Nacional.
Não que o dia da água ou da sogra não fossem importantes, pel’amor!
É que não tinham a devida repercussão...
Consideraram que, sim, chove.
Porém menos que em novembro, dezembro e janeiro; quase igual a fevereiro e com a mesma temperatura média dos meses mais chuvosos.
Então, ficou sendo março que, de quebra, tinha o dia 16, antes do Outono, disponível para o “Dia do Quiabo” por não ser dia de coisa nenhuma ainda e de nenhum santo da igreja, que beleza!
Aguardemos então, o lançamento oficial da “QUIESCAL”.
Em março, todos a Escaldado.
O Projeto promete e o Prefeito cumpre!
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